O Gatilho
São mais umas páginas do meu diário, sempre escrevi sobre a minha vida, minha família, sobre os meus casos na polícia.
O meu pequeno diário não passava de um bloco de notas, de rascunhos muitas vezes, porque assim a minha profissão o exigia.
Meu nome é Jorge Mendonça, tenho 3 filhos lindos, duas meninas e um menino.
O meu rapaz é o meu orgulho, João, tem 6 anos, é o mais rufia na casa, diz que quando crescer quer ser polícia como o pai, prender os bandidos, usar pistolas. . .
Eu até ficaria orgulhoso senão soubesse os riscos da minha profissão.
Mas nunca pensei que um pequeno deslise me faria desistir tão depressa.
Depois tenho duas princesas lindas, a Joana e a Teresa têm 4 anos e foram a surpresa inesperada deste ano.
A minha vida de policial é muito complicada, todos os dias rezo a Deus voltar a casa, ver a minha família, vê-los crescer, vê-los a conquistar a independência e criar família.
Estava no meu carro com Rui meu companheiro de equipa, vinha aprender.
Estava no carro todo entusiasmado, parecendo um doberman.
Para mim todos os dias eram parecidos.
Este caso era numa casa abandonada, parecendo tantas outras, aquele lugar era frequentado como lugar assombrado, para assustar os turistas.
Ali eram apanhados todos os tipos de pessoas: Traficantes de drogas, fumadores, assaltantes, ali permaneciam jovens para as suas “diversões privadas”, jovens da escola exploradores…
Era um terreno deixado ao abandono.
Casa a partir aos bocados, tudo nela indicava ser perigoso.
Tinha mais um caso para resolver vindo dali …
Alguém tinha chamado a polícia toda para uma reunião até a minha chefe Teresa estava presente, e a minha amiga Lúcia também…
Claramente estávamos numa emboscada
A Teresa rondou o local e pediu-nos que deixássemos as armas.
-Teresa, desculpa não entendo a tua decisão- disse eu tentando chamá-la à razão
- Vêem para aqui crianças. E se acontecesse alguma coisa de mal a algum deles?
-Entendo…
5 minutos depois apareceu alguém por trás da Teresa, nós tentamos afastá-los mas estávamos desarmados…
-Não era bom estarmos armados? – perguntei com ironia
Foi arrastada pelo bandido, que impunha exigências para não a matar…
Eu desobedeci à ordem, peguei numa arma, sem pensar fui atrás deles e disparei contra o gajo.
Ele largou Teresa, corri atrás dele.
Entrei num quarto abandonado com uma cama, vi uma sombra de baixo e disparei.
De lá de baixo saiu minhas princesas e meu filho a sangrar.
Não acredito no que fiz.
Eles vinham sempre brincar para aquela casa, nem sinal do ladrão.
Levei meu filho numa ambulância para o hospital.
Veio o pior diagnóstico que um pai pode receber.
Meu filho estava surdo e tudo por minha culpa.
Ele sempre fora sensível a barulhos e o médico tinha-me avisado que isto poderia eventualmente acontecer.
Demiti-me da polícia e desde então não me perdoo-o pelo que aconteceu.
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